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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Contrariando os cânones instituídos...

Contrariando, de certa forma, aos cânones instituídos pela história do pensamento social e político brasileiro, o estudo de Karina Anhezini de Araújo, que acaba de ser publicado pela Editora Unesp, Um metódico à brasileira, estuda a história da historiografia construída na obra de Afonso de Taunay, entre 1911 e 1939, e nos oferece uma bela contribuição para o estudo da temática. Além de analisar autor, de extensa obra, e, particularmente, conhecido por seus estudos sobre o bandeirante paulista e a história do café, mas, injustamente, deixado em segundo plano nos estudos históricos nacionais das últimas décadas, a sua pesquisa ainda formula um modelo interpretativo operacional, para o estudo de autores e suas respectivas obras, ao ter como base a obra de Michel de Certeau, A escrita da história (de 1975), que lhe cerceou instrumentos teórico-metodológicos promissores para pensar o lugar, a prática e a escrita, consignadas na "operação historiográfica", que a autora procurou perscrutar na obra de Afonso de Taunay. O livro teve como base sua tese de doutoramento defendida em 2006 na Unesp, Campus de Franca, sob a orientação da professora Teresa Maria Malatian, que já na época foi uma pesquisa primorosa, e, agora, aparece reformulada e ainda melhor. Ao percorrer os lugares que propiciaram a Taunay rever e/ou reformular suas práticas, dando-lhes um caráter mais profundo e operacional, e permitindo-lhe perpassar do auto-didatismo, que a formação de engenheiro civil lhe possibilitou, para o constante aperfeiçoamento do ofício de historiador, por meio de leituras, práticas, exercícios de escrita e o intenso contato com os letrados do período, em especial, Capistrano de Abreu, mestre de uma geração de historiadores, a autora nos mostra passo-a-passo como se configuraram os momentos que definiram a "operação historiográfica" deste autor, ao ser ela também o trilhar de uma prática. Neste caso, indica-nos como, a partir de 1911, Taunay iria definir preceitos teórico-metodológicos, forjando os fundamentos de sua escrita da história, ao se apoiar no manual de Langlois e Seignobos, Introdução aos estudos históricos de 1898. Ao nos mostrar como o autor manteve tais preceitos ao longo de sua trajetória de pesquisa, mas sem deixar de lado a historiografia nacional, com sua história dos costumes, a autora nos indica como e por que Taunay soube em sua época ser um metódico à brasileira. Além disso, num percurso simultâneo e articulado a esse primeiro, a autora vai detalhando como os lugares que este autor passou, como o IHGB, o IHGSP, o Museu Paulista, a ABL e no curso de História e Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em meados da década de 1930, lhes foram de fundamental importância para a coleta, organização e análise de fontes primárias. Com isso, ao cruzar as correspondências passivas e ativas deste autor, com o processo de produção de sua obra, em meio aos locais em que foi passando, ao longo de sua carreira, além de efetuar uma análise interna de sua obra, ainda pouco usual em nossa historiografia, esta consegue elaborar um modelo interpretativo pertinente e eficaz para perscrutar a trajetória de outros autores, sejam os canonizados ou não, em nossa historiografia, que embora altamente profissional e madura, ainda está permeada por imensas e não justificadas lacunas; que, aliás, estudos como esse, podem contribuir para a constituição de uma história da historiografia cada vez mais crítica em nosso meio.

Referência completa:

ANHEZINI, K. Um metódico à brasileira: a história da historiografia de Afonso de Taunay (1911-1939). São Paulo: Editora Unesp, 2011.

Vale a pena conferir este trabalho, que certamente virá a se tornar uma referência em nossa história da historiografia.

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